sábado, 13 de março de 2010

A INOVAÇÃO VISTA ENQUANTO CULTURA INTERNA DA ORGANIZAÇÃO

Em parceria com o Engenheiro Fábio Vassallo Matos, Gerente do Senai-ES, escrevi o artigo abaixo que trata de Gestão da Inovação.

A INOVAÇÃO VISTA ENQUANTO CULTURA INTERNA DA ORGANIZAÇÃO

Em boa parte das organizações, a decisão para melhorar um produto, processo, sistema, modelo de negócio ou até mesmo a busca por algo novo, passa, em boa parte dos casos, por uma necessidade imperativa de mercado ou por uma oportunidade oferecida por instituição de fomento.

Desta afirmação, duas questões valem a reflexão; Primeiro, a busca pela inovação e melhoria constante não fazem parte de prioridades e/ou estratégias do ambiente organizacional, pelo menos fora das fronteiras dos deptos de P&D. Segundo, uma vez "adotado" pela alta direção – que precisa querer mudar e apostar, o processo de geração da inovação e conseqüentemente sua gestão, pode e deve ser sistematizado tanto nos fluxos das atividades dos diversos procedimentos operacionais da organização, quanto na forma de inter-relação com a cadeia de relacionamento da empresa (fornecedores/clientes/acionistas...), sem grande perda das condições reclamadas por alguns para o chamado ambiente criativo.

Longe de padronizar, automatizar ou engessar tal ambiente, sua sistematização leva aos quatro cantos da organização, a obrigatoriedade (por todos) de evocar o senso critico e de questionamento em cada atividade e processo cotidiano. Seus desdobramentos terão eco do chão de fábrica ao alto comando com repercussão no mercado. É certo que esta ação deve ser precedida de muita capacitação, formação de núcleos internos de acompanhamento e principalmente revisão do planejamento estratégico da empresa, conseqüência natural da nova filosofia e direcionamento.

Empresas que têm enveredado por este caminho já começam a colher alguns frutos. Por exemplo, a formação de um portfólio de projetos de inovação credenciam a organização à aproveitar o próspero momento de oferta de recursos com subvenção em editais. Isso sem considerarmos a principal herança que fica para a empresa: cultura de mudança.

No Espírito Santo, uma das principais ações do INOVAFINDES da Federação das Indústrias do Estado, planeja levar às empresas locais, projeto-piloto neste sentido, acompanhado de orientação estratégica e capacitação.

TECNOLOGIA DA INTERAÇÃO

Entre 2006 e 2007 publiquei no jornal Gazeta Mercantil um artigo que tratava de algumas experiencias na Europa. Hoje, com alguns redirecionamentos, já começa a se tornar realidade fora daquela região. Confiram:

Tecnologia da interação
Imagine que você acaba de acordar e deseja tomar seu café da manhã. Vai até a cozinha e verifica que já está conectado à Internet num painel instalado na porta da geladeira e também no microondas. No controle da geladeira já existe uma lista prévia de alimentos que computa o consumo da semana e, imediatamente, é gerada sua listagem de compras, que poderá ser enviada ao seu supermercado favorito através de um simples comando na tela.

Entretanto, hoje, você quer ter outra opção. Quer ir diretamente às compras com sua família. Aproveita e vai conhecer aquele "novo" supermercado que lhe forneceu um cartão de identificação num cadastramento feito em seu local de trabalho.

Chegando ao supermercado você passa o cartão de identificação pela portaria, liberando sua entrada para o interior da loja. Neste momento, é acionada toda o database marketing da companhia.

Sua presença é detectada e a partir de agora seu objetivo principal (como para todos os outros que também entraram) é suprir suas necessidades. Em sua ficha consta, entre outras coisas, que você gosta de vinho tinto português.

O sistema rastreia alguma promoção deste item e por meio de alto-falantes, comunica de forma impessoal que "a quem possa interessar, está havendo naquele momento uma promoção de vinhos portugueses na seção de bebidas". E isto vai acontecendo, durante sua permanência no local, para todos os itens que representem hábitos cadastrados em seu cartão.

Agora é hora de ir embora e ao passar pela porta de saída, seu carrinho vai por outro compartimento, te encontrando lá fora, onde você recebe sua nota fiscal discriminada com os produtos comprados e o valor já lançado em seu cartão. Isto tudo em 25 segundos de média.

No estacionamento, estranhamente um manobrista vem ao encontro de sua família, cumprimenta com mais atenção seu filho e lhe entrega uma pequena lembrança pela passagem de seu aniversário que ocorreu três dias atrás (conforme descrito em seu cartão).

Com sua partida, a central do supermercado detecta que na compra de hoje você não levou margarina, apesar de estar registrado que sua média de compra deste produto é de quatro por mês, preferencialmente da marca X. Automaticamente é enviado um e-mail questionando o por que de você não ter comprado este item e fornecendo algumas vantagens para você confirmar um pedido extra que será enviado para sua residência.

Pois bem, isto já vem acontecendo há algum tempo em algumas regiões do planeta. Modernas técnicas de gerenciamento de clientes (CRM) e de fornecedores (SCM), vem integrando toda a cadeia mercadológica ao qual seu empreendimento está inserido, maximizando a relação com clientes e fornecedores, além de criar uma atmosfera de atendimento personalizado.

Este tipo de interação entre cliente e empresa, longe de ser uma exclusividade no ramo varejista de alimentos, vem sendo adotado por vários segmentos e em vários níveis.

As Intranets (redes corporativas para clientes internos) e Extranets (redes corporativas para acesso de alguns clientes e fornecedores), são estruturas embrionárias destes grandes projetos. Os novos recursos dos telefones celulares (utilizando a chamada banda larga), prometem ampliar ainda mais todas essas possibilidades.

A última novidade (termo perigoso para este tipo de assunto) está na união da Internet e TV de alta definição - Webtv. O que pode parecer apenas mais uma arma nos negócios de entretenimento, tende a se transformar no mais revolucionário instrumento de relacionamento comercial e até afetivo da raça humana.

Imagine mais uma vez. Agora você está assistindo a uma novela (importante: no horário que você deseja). A cena se passa em uma bela praia e um casal conversa numa barraquinha de bebidas. Pare tudo, congele a imagem. Que praia é esta? Através do menu correspondente você fica sabendo que este balneário fica no Ceará, é informado sobre todos os pacotes turísticos disponíveis com hotéis e passeios e condições de pagamento para cada opção e lhe é perguntado se quer fazer alguma reserva e para qual período do ano. Voltando à novela, sua esposa gostou do modelo do biquíni da atriz da cena. Congelamos novamente a imagem, focamos a roupa e em segundos todas as características da peça, lojas que vendem, condições de pagamento e opção de compra com medida, cor, etc., são apresentadas. E isto se aplica à porção de aperitivos que também é mostrada, ao serviço de lavagem de roupas exposto no outdoor ao fundo da cena... Os intervalos para comerciais passam a ser coisas do passado, o merchandising toma forma muito mais agressiva, explícita e requintada.

Nunca o consumidor/cliente recebeu tanta atenção e tratamento personalizado. Ironicamente, nunca fomos tão tratados como apenas mais um número, um código de barras. E com tantos sistemas gerenciando nossas vidas, a chance de perdermos nossa privacidade, principalmente pelo ataque de hackers aos bancos de dados, também surge como mais uma importante questão.

E nossos relacionamentos sociais? Será que também sofrerão fortes mudanças? Os indivíduos se isolarão em no máximo pequenos grupos e de lá farão suas compras ou isto tudo é apenas mais uma opção a nós oferecida por esta sociedade da informação que está em processo de mudanças?

Existem fortes transformações a caminho e as grandes ameaças tanto ao equilíbrio de nosso comportamento como ao bom andamento do mercado, podem vir a ser excelentes nichos de novos negócios, jamais imaginados. A tecnologia da informação pode se transformar em tecnologia da interação tanto para o bem quanto para o caos.